segunda-feira, 6 de junho de 2011

Onde o ensino público funciona. E bem!

O verão da andorinha solitária não faz escola no sertão cearense. As três campeãs do Spaece-Alfa 2010 têm em comum trabalho de equipe, acompanhamento da Secretaria da Educação e pais na escola

A realidade crua de Cachoeira, a esburacados 300 quilômetros da Fortaleza, carece do milagre, nada menos. O pé de serra recebe o viajante com bacuris e carcarás soltos pelas rachaduras argilosas da pedra. Os dorsos nus capinam a vegetação ciliar do caminho como forma encontrada pela prefeitura de oferecer trabalho aos agricultores de Jó. A vereda de terra batida rasga o sertão pelado da Ibiapaba até a Escola de Ensino Infantil e Fundamental Luiz Antônio de Aguiar, onde vive a anunciação de novos começos: todos os meninos da Gorete sabem ler. E bem.

As três primeiras Escolas Nota 10 em alfabetização do Ceará no ano passado, inclusive a equipe da pedagoga em formação, Gorete de Aguiar, de 40 anos, receberam visita do O POVO. Apesar dos quilômetros distanciais entre as salas premiadas e das metodologias bem diferentes entre si, um diapasão equilibra os três quadros: são sertanejas, carecem de estrutura adequada, trabalham em equipe e não abrem mão do improvável.

Em 2007, quando do primeiro Sistema Permanente de Avaliação da Educação Básica voltado para a alfabetização (Spaece-Alfa), as três escolas apresentaram resultado entre satisfatório e intermediário, mas nenhuma alcançou o nível desejado de proficiência. Fazia muito tempo, não eram acompanhadas de perto pela Secretaria de Educação dos respectivos municípios. As vitórias não eram festejadas, os deslizes, sequer vistos.

O pulo do gato começou com o espanto do professor Gilvan Firmino, de 53 anos: “As dificuldades diárias do ensino público básico eram conhecidas de todos, mas faltava o apanhado de tudo e o incentivo para a mudança”. Ele também é secretário da educação do município de Irauçuba - o com maior área de desertificação no Ceará, a 154 quilômetros da Capital, casa da turma número um em alfabetização do estado.

A reação de Gilvan não foi isolada - nem a mais extrema do estado. Nos passos em direção à coesa rede de educação básica pública, Irauçuba está apenas começando - com nota geral de 152,2, o município está abaixo da média estadual, com 162,2. Diante dos diagnósticos preocupantes e das premiações oferecidas pelo Governo do Estado, as pastas da educação em todo Ceará começaram a se remexer. Quem está na sala de aula e é amante do ofício, está acostumado ao milagre - imagina a multiplicação dos peixes quando existe vara e isca.

Fisgados pelo bolsoUm ano depois da primeira avaliação anual do Spaece- Alfa, o nó apertou mais um tanto. Desde 2008, o Imposto Sobre Circulação de Mercadorias e Prestação de Serviços (ICMS) mudou. Os 25% que a Constituição manda o Governo do Estado encaminhar aos municípios estão, desde então, condicionados ao desempenho da educação pública local. “Os meninos não estão lendo depois de aprovados no 2o ano? Corta parte do investimento”. Também pode ter ajudado.

Como

entenda a notícia


Desde quando o Governo do Estado começou a premiar as melhores escolas em alfabetização, municípios do Ceará mudaram a rotina do ensino básico. Secretarias de educação mais presentes no dia a dia, intercâmbio entre municípios e mais suporte ao professor fazem a diferença

SAIBA MAIS

A prova Spaece-Alfa é realizada todo final de ano letivo nas escolas públicas com mais de 20 alunos matriculados no 2º ano.

Quando a escola está entre as 150 melhores do estado, recebe o selo de Escola Nota 10.

O prêmio é de R$2.500 por aluno avaliado. 25% desse dinheiro só será recebido no ano seguinte, se a escola mantiver o patamar.

LEIA AMANHÃ

No município cearense de Coreaú, a guinada da educação básica envolveu nucleação de escolas, novos veículos para o transporte escolar, mudança no quadro gestor das instituições e muito trabalho levado para casa. A aliança com os pais completa a equação de vitória.

Fonte: Jornal O Povo

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