terça-feira, 7 de junho de 2011

CRIME

Insegurança nas escolas assusta pais e estudantes
Publicado em 7 de junho de 2011
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Riscos e medos: estudos revelam que as unidades escolares públicas, por reunirem grande número de adolescentes, tornam-se atrativos para traficantes e assaltantes
FOTO: MARÍLIA CAMELO
 
Segundo Apeoc, 20% dos professores sofrem da Síndrome de Burnout, um distúrbio psíquico de caráter depressivo
Sobe para quatro o número de assassinatos registrados somente este ano dentro de escolas públicas do Ceará. O fato levanta mais uma vez o debate sobre a questão da insegurança em escolas públicas estaduais e municipais e no entorno delas. Por reunir uma grande quantidade de adolescentes, as unidades de ensino acabam se tornando atrativas para traficantes e assaltantes, que aproveitam o horário de chegada e saída dos estudantes para entrar em ação.

No último sábado, a Escola de Ensino Fundamental e Médio Santo Amaro, no bairro Bom Jardim, foi o cenário do mais recente crime registrado em escolas públicas do Estado. Um jovem de 16 anos, que não era daquela unidade educacional, foi assassinado enquanto brincava com amigos no ginásio poliesportivo da escola.

Ontem, primeiro dia de aula após o crime, o assunto entre pais e alunos era um só: o incidente que terminou em tragédia. O mais preocupante é que jovens da comunidade e alunos da própria escola presenciaram tudo. Alguns, inclusive, estão em estado de choque. Como é o caso do filho da dona de casa Francisca Maria de Sousa, 38.

A criança, de dez anos, presenciou a ação e desde sábado está tendo dificuldades para dormir. "Ele não fica mais sozinho, passa a noite em claro me perguntando se falta muito tempo para amanhecer o dia", relata a mãe, aflita.

"É difícil, a gente perde até a confiança de trazer os meninos para a aula. Tem uns alunos que querem alguma coisa da vida, mas têm outros não querem nada", desabafa Francisca Maria, defendendo a colocação de detectores de metais nas escolas.

Nicole Helen Nogueira, 14, que faz a 8ª série, considera a escola segura. Contudo, ela diz que no sábado, como todo mundo pode entrar por causa do "Escola Aberta", ninguém sabe o que estão levando.

Espaço alternativo
O "Escola Aberta" é um projeto do Governo Federal que busca repensar a instituição escolar como espaço alternativo para o desenvolvimento de atividades de formação, cultura, esporte e lazer. Segundo a Secretaria da Educação do Estado (Seduc), o objetivo é estreitar laços entre escola e comunidade, contribuindo para a consolidação de uma cultura de paz.

Amanda Alves de Sousa, 15, estuda há cinco anos na unidade, quando tomou conhecimento do crime, ficou surpresa. "Aqui é muito fechado, nunca pensei que isso aconteceria".

A diretora da unidade, Heloísa Helena Linhares, que trabalha há dez anos na escola, garante que nunca aconteceu nenhum problema parecido. Ela conta que há quatro anos aderiu ao "Escola Aberta". "É uma comunidade muito carente, e com o projeto tem contato com oficinas, aulas de informática", diz

Porém, a diretora admite falhas, como a falta de segurança. Ela sugere que o programa passe por reformulação, com maior controle, cadastro dos participantes e efetivo policial.

Através da assessoria de comunicação, a Seduc informa que, na Capital, todas as unidades de ensino contam com vigilância. "A Secretaria da Segurança Pública e Defesa Social do Estado (SSPDS), em parceria com a Seduc, desenvolve trabalho que realiza visitas comunitárias periódicas e presta atenção especial à escola durante a ronda. Cada diretor tem o contato do veículo que atende à região".

No caso específico da Escola de Ensino Fundamenta e Médio Santo Amaro, a Seduc declara que foi um problema pontual, pois nas 15 unidades de ensino que participam do programa, nunca houve registro de problemas dessa natureza.

Depressão
Dados do Sindicato dos Professores e Servidores da Educação do Ceará (Apeoc) revelam que 20% dos professores sofrem da Síndrome de Burnoute, um distúrbio psíquico de caráter depressivo, possui como sintomas o esgotamento físico e mental.

Anísio Melo, presidente da Apeoc, relata que muitos professores já abandonaram a carreira por causa da doença e que outros pediram aposentadoria. "É a doença da desistência, do desestímulo, da depressão".

Ele diz que o terceiro turno, o da noite, é o que mais preocupa os profissionais, pois é o horário mais crítico e a segurança ainda é muito limitada. As unidades de ensino da rede estadual contam com um porteiro por turno e com vigilantes armados nos finais de semana.

O dever deles é garantir a integridade do patrimônio da escola e não necessariamente dos profissionais e estudantes. Fato contestado por Anísio Melo. "Não podemos ter escolas com apenas um porteiro ou um vigilante para fazer a segurança de mais de mil alunos".

Ele denuncia que os governos, tanto estadual quanto municipal, não tratam o assunto de forma responsável. "Faltam políticas públicas efetivas".

LUANA LIMAREPÓRTER
 
Fonte: Diário do Nordeste

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