Dados da Pnad não representam a realidade da educação, diz especialista
23/09/2012 - 16h36
Akemi Nitahara
Repórter da Agência Brasil
Repórter da Agência Brasil
Rio de Janeiro – Apesar dos dados da Pesquisa Nacional por Amostra
de Domicílios (Pnad) 2011, divulgada na última sexta-feira (21) pelo
Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), apontarem
pequenos avanços na área de educação, a melhoria é muito lenta para o
patamar de qualidade em que o Brasil se encontra.
A opinião é da diretora executiva do Movimento Todos pela Educação
(MTE), Priscila Cruz, advogada que atua na defesa da educação de
qualidade há dez anos. Segundo ela, o critério usado pelo IBGE para
definir analfabetismo não leva em conta o nível de proficiência dos
alunos em leitura e escrita.
“Alfabetização é muito mais do que escolarização. O IBGE olha os
jovens e adultos com mais de 15 anos, aqueles que têm quatro anos ou
mais de escolaridade já é considerado alfabetizado. Mas como a gente tem
uma qualidade de educação muito ruim no Brasil, o que acontece é que
tem muita criança de 11, 12 anos, jovem que está no ensino médio com 15,
17 anos, que ainda é analfabeto. Infelizmente isso ainda é uma
realidade no nosso país”, explica Priscila.
Ela disse que uma das metas do MTE é que toda criança esteja
plenamente alfabetizada aos 8 anos de idade, o que não ocorre
atualmente. “A Prova ABC (uma parceria da Organização Não Governamental
(ONG) Todos pela Educação com o Instituto Paulo Montenegro, a Fundação
Cesgranrio e o Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais)
mostrou que, das crianças de 8 anos no Brasil, só metade é plenamente
alfabetizada. É um dado bem diferente daquele do IBGE. É diferente fazer
a prova e testar ou perguntar quantos anos de estudo tem e ela ser
considerada alfabetizada”.
Priscila admite que houve avanços. Porém, eles ocorrem muito
devagar. “A gente vem melhorando só que num ritmo muito lento. Se a
gente tivesse num patamar mais alto, melhorar lentamente não seria tão
ruim. A gente está num patamar muito baixo e melhorando muito
lentamente, vai demorar muito pra gente conseguir garantir o direito de
todos os alunos a ter educação de qualidade”.
A diretora da ONG aponta que, apesar de 98,2% da população de 6 a 14
anos, correspondente ao ensino fundamental, estarem na escola, se for
levado em conta desde a educação infantil até o ensino médio, o Brasil
tem 3,8 milhões de crianças e jovens fora da escola. A situação é pior
entre os adolescentes de 15 a 17 anos, que deveriam estar no ensino
médio. Nessa faixa etária, a taxa de escolarização caiu de 85,2% em 2009
para 83,7% em 2011.
“O ensino médio vive uma crise de identidade: esses alunos não veem
sentido nesse ensino médio, acabam evadindo, saem antes do tempo de se
formarem e a gente está perdendo esses jovens. São jovens que, na
sociedade atual, século 21, sociedade do conhecimento, não concluíram
nem o ensino médio, é ter aí um extermínio de jovens”, alerta Priscila.
A diretora executiva do Movimento Todos pela Educação lembra que
existem experiências de outros países e também dentro do Brasil que
apontam caminhos a serem seguidos para melhorar o desempenho dos
alunos.
“Acho que tem de investir em professor: eles são muito mais formados
para serem teóricos da educação. Tem que ter um maior número de escolas
em tempo integral, tem que ter avaliações que realmente ajudem os
gestores a formularem suas políticas e incorporar a avaliação como
ferramenta para avançar”.
Edição: José Romildo
Fonte: Agência Brasil
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